Diálise - o que é e qual seu papel nas doenças renais?

Existem momentos nos quais os rins não conseguem mais suprir as necessidades metabólicas do corpo ou ajustar de maneira adequada o volume de líquido corporal e substâncias envolvidas na geração de energia do corpo ou funcionamento das células. Esses quadros podem ser caracterizados de maneira aguda (insuficiência renal aguda) ou crônica (doença renal crônica). 

No geral, os distúrbios causados pela falência renal ocorrem quando os rins reduzem sua função a níveis menores que 10ml/min. Entenda que um rim normal funciona entre 90-120ml/min. Isso significa que este rim tem um ritmo de filtração de cerca de 100ml/min. Ao cair abaixo de 10ml/min, estamos falando de uma perda >90% da função renal. Para ficar mais fácil o entendimento, imagine que você possui 10 funcionários, porém aconteceu uma catástrofe e agora você tem apenas 1 funcionário para manter o mesmo nível de trabalho que os 10 que estavam disponíveis anteriormente: é impossível! Este único funcionário ficará sobrecarregado, não dará conta do trabalho e acabará entrando em exaustão! 

Com este raciocínio, para auxiliar na continuidade dos trabalhos que eram realizados pelo rim, iniciamos um tratamento que envolve muitos mitos e é temido por muitos: a diálise. 

Diálise é a troca de substâncias através de uma membrana, a qual permite a passagem de resíduos e excesso de líquido do sangue para uma solução chamada de dialisato, a qual é descartada durante o procedimento, permitindo que o sangue volte purificado para a corrente sanguínea. É um processo complexo, que pode ser realizado de duas maneiras: Hemodiálise e Diálise Peritoneal. 

• Hemodiálise: é o método mais disseminado em nosso país, com cerca de 150 mil pessoas realizando o tratamento, de acordo com o Censo da Sociedade Brasileira de Nefrologia 2021. A hemodiálise é um procedimento realizado em clínicas ou hospitais, através do implante de catéter venoso ou confecção de fístula artéria-venosa (vamos conversar sobre isso em outra matéria). O sangue sai através do acesso vascular, passa por um filtro acoplado à uma máquina de diálise e retorna purificado ao corpo do paciente. O tempo de duração de uma sessão de hemodiálise varia de 3-5h e pode ser realizado três vezes por semana (diálise convencional) ou >4x/semana (diálise frequente). Alguns centros de diálise oferecem também hemodiálise noturna (a qual apresenta algumas variações na prescrição, geralmente com 7h de procedimento) e hemodiálise domiciliar (o paciente faz hemodiálise em domicílio, desde que a estrutura esteja apropriada para tal). A hemodiálise não dói e é acompanhada de perto por profissionais de enfermagem e médicos, que estarão disponíveis durante todo o tratamento, seja na clínica de diálise ou no hospital, para que o procedimento possa ocorrer com a máxima segurança possível. Dado seus custos elevados, a hemodiálise domiciliar ainda não é uma realidade comum em nosso país. 
• Diálise Peritoneal: a diálise peritoneal é realizada através da infusão de uma solução com glicose e sais através de um catéter implantado cirurgicamente no abdome do paciente, utilizando como membrana de troca o próprio peritônio do indivíduo (uma membrana que recobre o intestino). Esse método é preferido de muitos por poder ser realizado em domicílio, reduzindo o tempo de deslocamento do paciente para clínicas e permitindo maior liberdade com relação ao seu cotidiano. Algumas observações tem que ser feitas com relação à diálise peritoneal: o tratamento depende de treinamento do paciente, para que este possa realizar sua própria rotina de cuidado, baseado em prescrição médica e de enfermagem; a depender do centro no qual o seu tratamento está ocorrendo, a diálise peritoneal pode não estar disponível como opção terapêutica (apenas 5,8% dos pacientes brasileiros em diálise estão em diálise peritoneal - Censo Brasileiro de Diálise 2021). 

A diálise é um procedimento fundamental para a manutenção da vida de pessoas com doença renal avançada e a escolha de qual método é o melhor para o paciente depende de características sociais e de saúde, cabendo portanto ao médico nefrologista orientar de maneira individualizada a terapêutica ideal. 

Vamos desenvolver mais assuntos específicos de diálise na sessão Blog. 

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